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quinta-feira, julho 13, 2006

O re-engenheirador-chefe ou re-engenharia e re-engenhadores

Houve uma época em que muito se falou em re-engenharia. O que vinha a ser isso, na realidade, nunca ficou muito bem esclarecido, mas pelo menos três conseqüências advieram dessa coisa:



muita gente perdeu o emprego, muitos livros foram escritos sobre o assunto e muita gente se encheu de dinheiro ludibriando incautos empresários.

E o que é pior: num claro indício de que a estupidez humana não tem limites houve quem comprasse desses tais livros e, até mesmo, quem lesse alguma coisa deles. Algumas pessoas, executivos, chefes e diretores de empresas (algumas estatais) até pediram que lhes fossem lidos em voz alta.

Bom, mas o fato é que certa empresa era uma das patrocinadoras da apresentação de uma famosa orquestra sinfônica. Do programa, constava a Sinfonia Número 8 em si menor de Schubert, a famosa Sinfonia Inacabada. Ingressos foram distribuídos com as diretorias dessa tal empresa.

E chegou o dia do concerto. Um dos diretores não pôde ir ao teatro e deu ao re-engenheirador-chefe o ingresso que havia recebido.

Na manhã seguinte ao concerto, os dois se encontraram, o diretor e o re-engenheirador-chefe, e o diretor fez a clássica pergunta "Então, como foi?" Em vez de responder, como faria qualquer pessoa normal, o re-engenheirador-chefe entregou o relatório que vai abaixo transcrito (com as devidas correções gramaticais). Por razões que o leitor logo vai perceber, ele dedicou todo o relatório à Sinfonia número 8, a Inacabada.

Por um considerável tempo, os trombonistas nada tinham o que fazer e ficavam só olhando os outros músicos tocar. O número deles deve ser reduzido e o pouco que lhes compete deve ser redistribuído entre os demais integrantes da orquestra.

Todos os doze violinos faziam os mesmos gestos e tocavam as mesmas notas. É uma duplicação totalmente desnecessária e o responsável por esse setor deve ser sumariamente demitido. Que se mantenha apenas um dos violinistas. Se for necessário um maior volume de som, que se usem amplificadores. Sai mais barato.

Não faz o menor sentido as trompas ficarem sempre a repetir as mesmas passagens das cordas. Se essas passagens redundantes forem eliminadas, a duração do trabalho pode ser reduzida de 26 minutos para menos de 20.


Algumas passagens exigem grande virtuosismo dos executantes. Virtuoses custam muito mais dinheiro do que simples ajudantes ou, mesmo, paramúsicos. Tais passagens, mais refinadas, devem ser banidas ou simplificadas de modo que possam ser executadas por pessoas com menor qualificação profissional.

Essa Sinfonia - a número 8 - tem dois movimentos. Se o Sr. Schubert tivesse se dedicado mais e concentrado todo seu esforço no primeiro movimento, certamente o segundo movimento seria totalmente desnecessário. Isso traria consideráveis ganhos.

Seja como for, a falta de responsabilidade desse senhor fez com que a obra ficasse, até hoje, por concluir. Se tivesse seguido os nossos princípios e as nossas orientações, certamente teria conseguido terminar o trabalho no tempo que lhe foi destinado ao invés de deixá-lo inacabado